sábado, 23 de junho de 2012

MELOMARÉ



Não sei ao certo quando isso começou, mas já virou hábito discutirmos sobre o desempenho geral do grupo depois de cada apresentação. Era comum classificarmos um dia de espetáculo como sendo “bom” ou “ruim” tendo como parâmetro obviedades raramente atendidas: escuta , generosidade e atenção em cena. É claro que, se tratando de uma improvisação, entradas coerentes e criatividade são indispensáveis para a realização de um jogo bem-sucedido. Entretanto, há uma outra característica relevante no Melodrama da meia-noite, que além de constituir o seu diferencial, também se mostra decisiva na estética de representação adotada: a participação do espectador, mais precisamente o Povo de Paris .

Todas as experiências anteriores tinham se dado unicamente no ambiente acadêmico, e quando surgiu a proposta de nos apresentarmos fora dos portões da UNIRIO,  foi visível a motivação causada pela oportunidade, mas ao mesmo tempo surgiram dúvidas quanto à maneira de conduzir o jogo do Gaulier. Afinal, não estaríamos mais diante de familiares, amigos e estudantes universitários de teatro...

Não é com exagero que afirmo que aquele 5 de maio foi de fato um divisor de águas. A plateia formada por desconhecidos, em sua maioria adolescentes, constituiu o melhor Povo de Paris que tivemos, já que além da manifestação previsível do riso, também surgiram momentos surpreendentes de comoção. As interferências abrangiam uma sucessão de pedidos que não apenas estimulavam tentativas originais de criação, mas  quase determinavam  o desenrolar da cena.
     
As habituais moedas foram substituídas por balas que direcionadas ao tablado toda a vez que se estabeleciam identificações com a telenovela e com demais elementos encontrados no universo midiático.

Solicitações direcionadas diretamente tanto ao Monsieur quanto aos atores se fizeram presentes a todo instante, resultando em uma relação palco–plateia despretensiosamente leve e divertida . A impressão que se tinha era que aqueles jovens  eram tão jogadores como nós.

Naquele sábado , o melodrama ocorria debaixo de um sol de meio-dia, sendo assistido por olhares desafiantes, mas não resistentes.

Novidade para eles, incentivo para nós. 

Helena Hamam
atriz da Cia. Melodramática do Rio de Janeiro
fotos: Profa. Marina Henriques


ONG Redes da Maré - www.redesdamare.org.br